17.1.13

A Festa da Menina Morta (2008)



Origem: Brasil
Diretor: Matheus Nachtergaele
Roteiro: Matheus Nachtergaele e Hilton Lacerda
Com: Daniel Oliveira, Jackson Antunes, Dira Paes, Cassia Kiss, Juliano Cazaerré

Um filme sobre fé, loucura, maldades, humanidades, angústias e incertezas.

A história de A Festa da Menina Morta se passa na Amazônia, em um vilarejo ribeirinho, que vive da pesca e, principalmente, da fé daqueles que acreditam na divindade de Santinho (Daniel Oliveira). Um jovem de traços afeminados que foi declarado santo ainda menino, ao achar o vestidinho azul de uma criança desaparecida, única prova do fim de Maria Cecília.

Desde então, o menino vive separado do mundo real, trancafiado em sua própria casa, vestido com a roupa de sua mãe (Cassia Kiss), morta quando ele era ainda bem pequeno. Com o aval e o estímulo do pai (Jackson Antunes), com quem mantém uma relação incestuosa, Santinho cresce com o ônus e o bônus de ser especial. Dono de uma personalidade complicada e misteriosa, ele grita e chora ao mesmo tempo. Ele se sente, de uma só vez, superior e indefeso. Ele é forte e fraco. Ele dá benção, mas precisa constantemente de colo.

A cada ano, o vilarejo comemora, com uma grande festa, a data em que o vestido foi enviado por Deus às mãos do menino-santo: é a Festa da Menina Morta. Um evento que movimenta a economia daquela pequena cidade e que tem Santinho como figura de destaque.


Selecionado para a mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2008, o primeiro filme de Matheus Nachtergaele como diretor é, sem dúvida, um filme que desconcerta, perturba, que nos instiga a pensar sobre certas crenças populares que acabam por tornarem-se verdades inquestionáveis. Não se trata de um filme leve. Ao contrário. Muitas cenas são bem pesadas, com uma carga dramática intensa, capazes de nos deixarem bastante angustiados. Mas vale a pena, pois há muito o que tirar desta história. Sem falar que há muito da nossa cultura miscigenada ali dentro. Uma cultura que coloca no mesmo pote índios, negros, brancos, cristianismo, rituais indígenas, macumba e muito mais.

Com uma câmera na mão e um olhar glauberrocheriano na cabeça, o filme de Nachtergaele nos mostra, assim, um Brasil real, nu e cru, bem ao estilo Cinema Novo de ser. Ele explora ainda de maneira inteligente e acertada a profundidade do campo, permitindo-nos observar várias ações que acontecem ao mesmo tempo no primeiro, segundo e, às vezes, até em um terceiro plano.

A fotografia de Lula Carvalho é também excelente, explorando bastante a cor azul, que se faz presente em quase todas as cenas, possivelmente representando a divindade de Santinho.  Além de ser esta também a cor do vestido da Menina.

A Festa da Menina Morta é, assim, um filme de um diretor estreante que já começou sua nova etapa com o pé direito!



Lilia Lustosa