Origem: Brasil
Diretor: Laís Bodanzky
Roteiro: Luiz Bolognesi
Com: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss, Caco
Ciocler
Forte,
angustiante, inquietante, triste, real! Uma lição que dói!
Baseado
no livro Canto dos Malditos, de
Austragésilo Carrano Bueno, o primeiro longa-metragem de ficção de Laís
Bodanzky é uma paulada na cabeça de todos nós que somos pais! Um filme que nos
faz acordar e refletir sobre como agimos enquanto pais, de que maneira
acompanhamos nossos filhos, o quanto confiamos neles e, sobretudo, qual é o
limite entre o aconselhamento e o autoritarismo.
Sem
falar que estamos aqui diante de um filme-denúncia, uma obra que revela a real
situação das instituições psiquiátricas brasileiras.
O
filme conta a história de Neto (brilhantemente interpretado por Rodrigo Santoro
em sua estreia em longas metragens), um jovem de classe média, que divide sua
vida entre a escola e um grupo de amigos que se diverte fumando um baseado
aqui, outro ali, ou ainda pichando os muros da cidade.
Seu
pai, Wilson (Othon Bastos), com olhar atento e autoritário, percebe aos poucos
o comportamento vez por outra distante do filho. Ele questiona, tenta saber o
que está acontecendo, mas, por não conseguir nenhuma resposta, acaba usando (e
abusando) de sua autoridade de pai. A mãe (Cássia Kiss) é omissa. Vê, apoia,
sofre, mas não age. E assim a vida vai seguindo até o dia em que o pai percebe
um cigarro de maconha na roupa do filho. Pronto! Antes de ouvir qualquer
explicação, ele resolve que o filho é um viciado e que precisa de tratamento. É
o início de um pesadelo!
Neto,
que vivia plenamente sua liberdade, se vê de uma hora para outra preso em um
hospital psiquiátrico, obrigado a tomar remédios e injeções, sem mesmo passar
por exames ou receber um diagnóstico. Ele se rebela, sofre e se desespera. Mas
sua rebeldia só piora a situação!
Bicho de Sete Cabeças nos leva para
dentro das instituições psiquiátricas brasileiras, abre-nos os olhos,
fazendo-nos enxergar as atrocidades que são ali cometidas. Cenas fortes,
trabalhadas por uma câmera trôpega, inquieta, angustiada, com lentes que destorcem as imagens, nos
fazendo enxergar pelos olhos dos pacientes. Juntamente com uma edição de som
magnífica, com sons deslocados das imagens, barulhos que tem vida própria,
dentro e fora de nossas cabeças.
Embalados
ainda pela excelente trilha sonora assinada por André Abujamra - com músicas de
Arnaldo Antunes, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Zeca Baleiro, dentre outros - sentimo-nos
zonzos, perdidos, encurralados, desesperados!
Não
é à toa que o filme de Laís Bodanzky arrebatou uma porção de prêmios no Brasil
e no mundo! Nove prêmios no Festival de Brasília, outros nove no Festival do
Recife, quatro prêmios no IQC – Prêmio Qualidade Brasil, sem falar nos internacionais
do Festival de Locarno (Suíça), do Festival de Trieste (Itália), dentre outros.
Super
recomendado!
Lilia Lustosa