6.12.12

Bicho de Sete Cabeças (2001)



Origem: Brasil
Diretor: Laís Bodanzky
Roteiro: Luiz Bolognesi
Com: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss, Caco Ciocler

Forte, angustiante, inquietante, triste, real! Uma lição que dói!

Baseado no livro Canto dos Malditos, de Austragésilo Carrano Bueno, o primeiro longa-metragem de ficção de Laís Bodanzky é uma paulada na cabeça de todos nós que somos pais! Um filme que nos faz acordar e refletir sobre como agimos enquanto pais, de que maneira acompanhamos nossos filhos, o quanto confiamos neles e, sobretudo, qual é o limite entre o aconselhamento e o autoritarismo.

Sem falar que estamos aqui diante de um filme-denúncia, uma obra que revela a real situação das instituições psiquiátricas brasileiras.

O filme conta a história de Neto (brilhantemente interpretado por Rodrigo Santoro em sua estreia em longas metragens), um jovem de classe média, que divide sua vida entre a escola e um grupo de amigos que se diverte fumando um baseado aqui, outro ali, ou ainda pichando os muros da cidade.

Seu pai, Wilson (Othon Bastos), com olhar atento e autoritário, percebe aos poucos o comportamento vez por outra distante do filho. Ele questiona, tenta saber o que está acontecendo, mas, por não conseguir nenhuma resposta, acaba usando (e abusando) de sua autoridade de pai. A mãe (Cássia Kiss) é omissa. Vê, apoia, sofre, mas não age. E assim a vida vai seguindo até o dia em que o pai percebe um cigarro de maconha na roupa do filho. Pronto! Antes de ouvir qualquer explicação, ele resolve que o filho é um viciado e que precisa de tratamento. É o início de um pesadelo!

Neto, que vivia plenamente sua liberdade, se vê de uma hora para outra preso em um hospital psiquiátrico, obrigado a tomar remédios e injeções, sem mesmo passar por exames ou receber um diagnóstico. Ele se rebela, sofre e se desespera. Mas sua rebeldia só piora a situação!

Bicho de Sete Cabeças nos leva para dentro das instituições psiquiátricas brasileiras, abre-nos os olhos, fazendo-nos enxergar as atrocidades que são ali cometidas. Cenas fortes, trabalhadas por uma câmera trôpega, inquieta, angustiada, com lentes que destorcem as imagens, nos fazendo enxergar pelos olhos dos pacientes. Juntamente com uma edição de som magnífica, com sons deslocados das imagens, barulhos que tem vida própria, dentro e fora de nossas cabeças.

Embalados ainda pela excelente trilha sonora assinada por André Abujamra - com músicas de Arnaldo Antunes, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Zeca Baleiro, dentre outros - sentimo-nos zonzos, perdidos, encurralados, desesperados!

Não é à toa que o filme de Laís Bodanzky arrebatou uma porção de prêmios no Brasil e no mundo! Nove prêmios no Festival de Brasília, outros nove no Festival do Recife, quatro prêmios no IQC – Prêmio Qualidade Brasil, sem falar nos internacionais do Festival de Locarno (Suíça), do Festival de Trieste (Itália), dentre outros.

Super recomendado!
Lilia Lustosa