Origem: Brasil, Portugal, França e Alemanha
Diretor: Karim Aïnouz
Roteiro: Karim Aïnouz, Maurício Zacharias
Com: Hermila Guedes, Zezita Matos, Maria Menezes, João Miguel
Produzido
por Walter Salles e assinado pelo talentoso Karim Aïnouz, O Céu de Suely conta a tão conhecida história da nordestina que,
acreditando no sonho de uma vida melhor, segue rumo a São Paulo para logo
descobrir que a selva de pedra não é nem tão dócil, nem tão milagrosa assim.
Uma
história simples, de uma brasileira “comum”, que não desiste nunca de ter
esperança...
O
filme começa nos participando - na voz da própria protagonista Hermila (Hermila
Guedes) – o nascimento de uma criança. Um bebê bem-vindo, amado, que chega ao
mundo trazendo alegrias e esperanças, para ser em seguida abandonado pelo pai.
As
cenas de abertura, com ares de filme caseiro e com a predominância do azul –
que aliás segue por todo o filme, desde a alça do soutien, passando pelo
sabonete até as paredes da casa de Hermila - são ensolaradas e tocantes. A
música “Tudo que tenho”, na voz da cantora da Jovem Guarda, Diana, dá um ritmo
romântico e kistch à cena.
Pouco
a pouco, porém, essa alegria vai dar lugar à decepção e Hermila cairá de sua
nuvem direto no solo duro e árido do sertão nordestino, com seu filho no colo e
com um “marido” que nunca vai chegar.
Em
sucessivos closes e cenas escuras, vemos então o rosto de uma Hermila
“derrotada”, que volta a sua cidade natal, sem dinheiro nem história de sucesso
para contar. Ela vai buscar abrigo na casa de suas avó e tia, que levam uma vida simples, cheia de frustrações e de dificuldades financeiras.
Ao
chegar lá e se deparar com sua antiga realidade, ela decide, então, rifar seu
próprio corpo a fim de conseguir dinheiro para ir embora novamente. Não, ela
não se torna prostituta de profissão, não! Embora a oportunidade estivesse bem ali, batendo à sua porta. Mas resolve vender rifas para “uma única noite no paraíso com Suely”
- seu nome de guerra para aquele prêmio. Uma ideia inusitada e controversa, que
causa furor em Iguatu.
Karim
Aïnouz optou por cenas escuras para demonstrar a incerteza do futuro, o medo do
que está por vir e a tristeza pela consciência do abandono e da traição. E cenas claras, ensolaradas e cheias de céu
azul para transmitir a esperança que sempre mora no coração de Hermila e dos
nordestinos em geral.
A
narração é um pouco arrastada, como parece ser a própria vida no calor
nordestino. Mas não atrapalha o desenrolar do filme. Fora que, vez por outra, ela é entrecortada por cenas quentes, agitadas,
compostas por músicas alegres, danças e corpos esbanjando sensualidade.
O Céu de Suely é um filme bonito,
poético e que retrata de maneira realista, inteligente e leve, a
situação de muitas brasileiras e brasileiros que insistem em acreditar... Super
recomendado!
Lilia Lustosa