21.8.12

Sexo, Amor e Traição (2003)



Origem: Brasil
Diretor: Jorge Fernando
Roteiro: Emanuel Jacobina e Renê Belmonte
Com: Malu Mader, Murilo Benício, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Fábio Assunção, Heloísa Périssé, Marcello Antony, Betty Faria

Sexo, Amor e Traição é o primeiro filme de Jorge Fernando para o cinema, diretor já tão consagrado por suas inúmeras novelas de sucesso.

Trata-se de um remake do filme mexicano Sexo, Pudor e Lágrimas, do diretor Antonio Serrano, lançado em 1999. Uma comédia romântica à la Hollywood, desta vez com cenários e atores bem brasileiros.

A trama se passa no Rio de Janeiro - o que já nos garante, de cara, planos lindos da cidade maravilhosa – e conta a história de dois casais de classe média alta que moram em apartamentos virados um de frente para o outro.

Os dois casais em questão vivem momentos de crise no relacionamento. Ana e Carlos (Malu Mader e Murilo Benício) sofrem pela escassez de sexo. Na verdade é Ana quem reclama sexo, já que Carlos só tem olhos e ouvidos para seu livro que pena em sair. Enquanto que, do outro lado da rua, o casal Andréa e Miguel (Alessandra Negrini e Caco Ciocler) sofre pela falta de amor. Ou melhor, Andréa, uma ex-modelo, hoje dondoca e consumista assumida, reclama  o amor do marido publicitário-de-alma-vendida-ao-mundo-do-business.   

E é nesse meio carente e cheio de brechas que vão desembarcar Tomás (Fábio Assunção) e Cláudia (Heloisa Périssée), antigos amigos e amores dos casais protagonistas. Figuras viajadas e donas de mil histórias que vão desencadear acontecimentos capazes de fazer a poeira levantar naquele bairro do Rio de Janeiro. Dois triângulos amorosos estão assim formados e prontos para detonar mais uma “guerra dos sexos”.

Assim, por meio de situações pra lá de divertidas, o filme vai tocando em temas como ciúmes, confidências, resgates, paixões e dores, misturando cenas cômicas (a maioria) com algumas poucas cenas mais sérias, levando o espectador ao riso leve e descontraído durante quase toda a sua duração.

Banhado insistentemente pelo vermelho, é possível perceber, do começo ao fim do filme, elementos importantes no cenário ou no figurino dos atores tingidos de encarnado. Da porta da casa de Ana e Carlos, passando pela colcha da cama até a armação dos óculos usados por Murilo Benício, o vermelho é, sem dúvida, a cor que predomina. O que não é diferente no universo do outro casal, em que uma escultura vermelha enorme toma conta da sala do duplex de Andréa e Miguel, servindo mesmo de moldura para uma das cenas do filme.

Vermelho que é a cor do amor, da paixão, da luxúria, da traição, do sangue, da dor. Cor quente, que excita, aquece, agita, entorpece, inquieta. 

Diferente da estrutura do filme, que é, por sua vez, bem simples e sem grandes “agitos” ou mistérios. A montagem é predominantemente paralela, apresentando-nos, a cada nova sequência, um trecho da vida de um dos casais. Uma hora vemos Ana e Carlos discutindo, para em seguida vermos, do outro lado da rua, uma cena equivalente, só que vivida pelo casal Andréa e Miguel. Muitas vezes, a fachada dos prédios é o elemento de transição entre os planos dos diferentes casais.

Fora o grande tema “crises de relacionamento”, Sexo, Amor e Traição é também um filme que trata da questão do voyeurismo, tão recorrente na história do cinema e que é também algo tão presente e real no mundo pós-moderno. Um hábito, vício - ou quiçá fetiche - fruto de nossas vidas cada vez mais expostas, devassadas pelas vitrines tecnológicas (internet com suas amplas redes sociais) ou pelos vidros que insistem em tomar o lugar do concreto. Uma transparência que inquieta, que nos faz, por vezes, interpretar de maneira errada os sinais exibidos, que nos faz acreditar que a grama do vizinho é sempre mais verde do que a nossa.

Um filme leve, divertido, para rir com gosto!

Lilia Lustosa