Origem: Brasil
Diretor: Jorge Fernando
Roteiro: Emanuel Jacobina e Renê
Belmonte
Com: Malu Mader, Murilo Benício,
Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Fábio Assunção, Heloísa Périssé, Marcello
Antony, Betty Faria
Sexo, Amor e Traição é o primeiro filme de Jorge Fernando para o cinema, diretor já tão consagrado por suas inúmeras novelas de sucesso.
Trata-se de um remake do filme
mexicano Sexo, Pudor e Lágrimas, do
diretor Antonio Serrano, lançado em 1999. Uma comédia romântica à la Hollywood, desta vez com cenários e
atores bem brasileiros.
A trama se passa no Rio de Janeiro -
o que já nos garante, de cara, planos lindos da cidade maravilhosa – e conta a
história de dois casais de classe média alta que moram em apartamentos virados
um de frente para o outro.
Os dois casais em questão vivem momentos
de crise no relacionamento. Ana e Carlos (Malu Mader e Murilo Benício) sofrem pela
escassez de sexo. Na verdade é Ana quem reclama sexo, já que Carlos só tem
olhos e ouvidos para seu livro que pena em sair. Enquanto que, do outro lado da
rua, o casal Andréa e Miguel (Alessandra Negrini e Caco Ciocler) sofre pela
falta de amor. Ou melhor, Andréa, uma ex-modelo, hoje dondoca e consumista
assumida, reclama o amor do marido
publicitário-de-alma-vendida-ao-mundo-do-business.
E é nesse meio carente e cheio de brechas
que vão desembarcar Tomás (Fábio Assunção) e Cláudia (Heloisa Périssée),
antigos amigos e amores dos casais protagonistas. Figuras viajadas e donas de
mil histórias que vão desencadear acontecimentos capazes de fazer a poeira levantar
naquele bairro do Rio de Janeiro. Dois triângulos amorosos estão assim formados
e prontos para detonar mais uma “guerra dos sexos”.
Assim, por meio de situações pra lá
de divertidas, o filme vai tocando em temas como ciúmes, confidências,
resgates, paixões e dores, misturando cenas cômicas (a maioria) com algumas
poucas cenas mais sérias, levando o espectador ao riso leve e descontraído
durante quase toda a sua duração.
Banhado insistentemente pelo
vermelho, é possível perceber, do começo ao fim do filme, elementos importantes
no cenário ou no figurino dos atores tingidos de encarnado. Da porta da casa de
Ana e Carlos, passando pela colcha da cama até a armação dos óculos usados por
Murilo Benício, o vermelho é, sem dúvida, a cor que predomina. O que não é diferente
no universo do outro casal, em que uma escultura vermelha enorme toma conta da
sala do duplex de Andréa e Miguel, servindo mesmo de moldura para uma das cenas
do filme.
Vermelho que é a cor do amor, da
paixão, da luxúria, da traição, do sangue, da dor. Cor quente, que excita,
aquece, agita, entorpece, inquieta.
Diferente da estrutura do filme, que
é, por sua vez, bem simples e sem grandes “agitos” ou mistérios. A montagem é predominantemente
paralela, apresentando-nos, a cada nova sequência, um trecho da vida de um dos
casais. Uma hora vemos Ana e Carlos discutindo, para em seguida vermos, do
outro lado da rua, uma cena equivalente, só que vivida pelo casal Andréa e
Miguel. Muitas vezes, a fachada dos prédios é o elemento de transição entre os
planos dos diferentes casais.
Fora o grande tema “crises de relacionamento”,
Sexo, Amor e Traição é também um
filme que trata da questão do voyeurismo,
tão recorrente na história do cinema e que é também algo tão presente e real no
mundo pós-moderno. Um hábito, vício - ou quiçá fetiche - fruto de nossas vidas
cada vez mais expostas, devassadas pelas vitrines tecnológicas (internet com
suas amplas redes sociais) ou pelos vidros que insistem em tomar o lugar do
concreto. Uma transparência que inquieta, que nos faz, por vezes, interpretar
de maneira errada os sinais exibidos, que nos faz acreditar que a grama do
vizinho é sempre mais verde do que a nossa.
Um filme leve, divertido, para rir
com gosto!
Lilia Lustosa