Origem:
Brasil
Diretor:
João Daniel Tikhomiroff
Roteiro:
João Daniel Tikhomiroff, Patrícia Andrade e Bráulio Tavars
Com:
Ailton Carmo, Jessica Barbosa, Flávio Rocha, Irandhir Santos
Belo
e poético, Besouro é uma lição de
história, de coragem e de amor!
A
história - baseada no livro Feijoada no
Paraíso, de Marco Carvalho - se passa em 1924, na Bahia, e conta a vida e
os feitos de Besouro, um capoeirista que podia voar. Um herói que faz parte das
lendas e da história dos negros brasileiros, pseudo-alforriados.
O
filme todo é composto por diálogos lindos, profundos, filosóficos e proféticos.
Acompanhados por planos sublimes! A cena de abertura já nos introduz de maneira
simples e poética, por meio da voz de uma criança, à dura realidade da história
que vamos assistir.
O
menino Manuel, antes de se tornar Besouro, diz a seu mestre Alípio: “Eu não
posso porque sou menino. Eu não posso porque sou pobre. Eu não posso porque sou
preto.” Ao que seu mestre sabiamente lhe responde: “Menino, um dia você vai ser
homem. Pobre, quem sabe? Amanhã você pode ser rico. Agora, preto, meu filho, é
pra vida inteira. Preto com muito orgulho de sua cor. E não deixe ninguém fazer
pouco de você!”
Dali,
vamos saltar, voar e nos deixar levar pelos olhos e asas de um besouro-cascudo,
que com seu casco pesado e asas finas, desafia a ciência e a lógica em seu voo.
Vamos nos deixar levar pelas lentes de uma atenta câmara subjetiva, para,
assim, conhecermos de perto a história desse menino que virou homem. Desse
homem comum que criou asas e virou lenda. Desse espírito de luz e coragem que lutou
pelos direitos dos negros, pela legalização da capoeira. E que, com a bênção de
Ogum, regente da guerra, teve seu corpo fechado, para poder travar esta luta.
O
filme de João Daniel Tikhomiroff tem uma fotografia esplendorosa! Ele joga com
planos tomados dos mais diversos ângulos e explora bastante a câmara subjetiva,
tentando-nos fazer enxergar pelos olhos de um Besouro. Um bicho-homem que
aprende a enfrentar seu medo, a se tornar mais forte do que os sapos que o
rodeiam. Aliás, a cena do sapo merece ser salientada por sua beleza e ousadia.
Um momento de grande introspecção e de espiritualidade, nadando pelos recantos
mais profundos de sua alma em busca de força interior.
Misturando
lenda, fantasia e realidade, Besouro
é um filme que fala sobre vaidade, inveja, coragem, espiritualidade, respeito,
desrespeito, crueldade, amizade, rivalidade. Um filme rico de ensinamentos e de
poesia. Super recomendado!
por Lilia Lustosa