Origem: Brasil
Diretor: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor
Com: Marco Nanine, Elke Maravilha, Dan Stulbach, Mariana
Lima, Jayme Matarazzo, Maria Flor, Maria Luísa Mendonça
Não
se iluda pelo título!
Assim
como o La dolce vita, de Fellini, não tem
nada de doce, o filme A Suprema
Felicidade, de Arnaldo Jabor, também não tem nada (ou quase nada) de feliz!
Ao
contrário. Depois de muitos anos afastado do cinema, Jabor volta à ativa com um
filme pesado, com certos traços autobiográficos, carregado de amargura,
apresentando-nos uma felicidade tangível sim, mas, aparentemente distante do alcance de
nossos dedos.
A
história se passa no Rio de Janeiro, pós II Guerra Mundial, e é centrada na
vida de Paulinho (Jayme Matarazzo), um menino de classe média, filho de um pai
piloto da FAB (Dan Stulbach) e de uma mãe dona de casa (Mariana Lima). Mesmo
caso de Jabor, ele próprio filho de um pai da Aeronáutica e de uma mãe dona de
casa.
Construído
por uma série de flashbacks e flashfowards, o filme fica indo e vindo
no tempo, mostrando-nos Paulinho em três fases de sua vida (aos 8, aos 13 e aos
19). Enquanto isso, vemos também a evolução – ou involução – do relacionamento
de seus pais, Marcos e Sofia.
Ele,
um homem absolutamente frustrado que não conseguiu nunca se tornar o piloto que
sonhava. Ela, dona de casa por imposição, fruto de um marido ciumento e
machista. Ele, se afunda cada vez mais na bebida, saindo pela noite em busca
de uma felicidade inexistente. Ela, cada dia mais infeliz, neurótica, envelhecida,
obcecada pela ideia de ser deixada para trás pelo marido.
E no
meio desse furacão cresce Paulinho, tentando sobreviver e acreditar na existência
da felicidade e do amor.
Para
quebrar o clima pesado do filme, há a figura de Noel (brilhantemente
interpretado por Marco Nanini), avô de Paulinho. Um boêmio apaixonado pela
vida, encarregado de introduzir o menino à vida noturna carioca, sempre
filosofando sobre o amor, a felicidade e a religião. A relação entre os dois é
muito bonita, porém, infelizmente, não suficientemente explorada por Jabor, que, aliás, se perde um pouco ao tentar abordar, ao mesmo tempo, problemáticas de
personagens distintos e acaba por não se aprofundar em nenhuma de fato.
Quanto
à fotografia, o filme é belo, composto de imagens bem contrastadas, com predominância
do tom amarelado, meio sépia. Tudo ainda acompanhado por ótima música, assinada por Cristóvão
Bastos, e que nos ajuda a viajar no tempo ainda com mais facilidade.
A Suprema Felicidade nos coloca
diretamente no Rio das marchinhas, da boemia, do Carnaval, do malandro, das
prostitutas. Mas tudo soa meio artificial, exagerado, ensaiado, coreografado,
como num espetáculo do Eldorado.
Arnaldo
Jabor - que começou sua carreira no efervescer do Cinema Novo (anos 60), e que a interrompeu na era Collor (anos 90),
dedicando-se desde então ao jornalismo, com seus textos ácidos, de crítica
super afiada, irônica, atacando tudo e todos -
volta às telonas com um filme impregnado de seu estilo “verborrágico”.
Dá
para reconhecer o comentarista em várias falas dos personagens. E se fecharmos os olhos,
podemos nos imaginar diante da CBN, do Jornal Nacional ou do Fantástico.
Vale
conferir!
Lilia Lustosa