25.3.13

A Suprema Felicidade (2010)





Origem: Brasil
Diretor: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor
Com: Marco Nanine, Elke Maravilha, Dan Stulbach, Mariana Lima, Jayme Matarazzo, Maria Flor, Maria Luísa Mendonça

Não se iluda pelo título!

Assim como o La dolce vita, de Fellini, não tem nada de doce, o filme A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor, também não tem nada (ou quase nada) de feliz!

Ao contrário. Depois de muitos anos afastado do cinema, Jabor volta à ativa com um filme pesado, com certos traços autobiográficos, carregado de amargura, apresentando-nos uma felicidade tangível sim, mas, aparentemente distante do alcance de nossos dedos.

A história se passa no Rio de Janeiro, pós II Guerra Mundial, e é centrada na vida de Paulinho (Jayme Matarazzo), um menino de classe média, filho de um pai piloto da FAB (Dan Stulbach) e de uma mãe dona de casa (Mariana Lima). Mesmo caso de Jabor, ele próprio filho de um pai da Aeronáutica e de uma mãe dona de casa.

Construído por uma série de flashbacks e flashfowards, o filme fica indo e vindo no tempo, mostrando-nos Paulinho em três fases de sua vida (aos 8, aos 13 e aos 19). Enquanto isso, vemos também a evolução – ou involução – do relacionamento de seus pais, Marcos e Sofia.

Ele, um homem absolutamente frustrado que não conseguiu nunca se tornar o piloto que sonhava. Ela, dona de casa por imposição, fruto de um marido ciumento e machista. Ele, se afunda cada vez mais na bebida, saindo pela noite em busca de uma felicidade inexistente. Ela, cada dia mais infeliz, neurótica, envelhecida, obcecada pela ideia de ser deixada para trás pelo marido.

E no meio desse furacão cresce Paulinho, tentando sobreviver e acreditar na existência da felicidade e do amor.

Para quebrar o clima pesado do filme, há a figura de Noel (brilhantemente interpretado por Marco Nanini), avô de Paulinho. Um boêmio apaixonado pela vida, encarregado de introduzir o menino à vida noturna carioca, sempre filosofando sobre o amor, a felicidade e a religião. A relação entre os dois é muito bonita, porém, infelizmente, não suficientemente explorada por Jabor, que, aliás, se perde um pouco ao tentar abordar, ao mesmo tempo, problemáticas de personagens distintos e acaba por não se aprofundar em nenhuma de fato.

Quanto à fotografia, o filme é belo, composto de imagens bem contrastadas, com predominância do tom amarelado, meio sépia. Tudo ainda acompanhado por ótima música, assinada por Cristóvão Bastos, e que nos ajuda a viajar no tempo ainda com mais facilidade.

A Suprema Felicidade nos coloca diretamente no Rio das marchinhas, da boemia, do Carnaval, do malandro, das prostitutas. Mas tudo soa meio artificial, exagerado, ensaiado, coreografado, como num espetáculo do Eldorado.  

Arnaldo Jabor - que começou sua carreira no efervescer do Cinema Novo (anos 60), e que a interrompeu na era Collor (anos 90), dedicando-se desde então ao jornalismo, com seus textos ácidos, de crítica super afiada, irônica, atacando tudo e todos -  volta às telonas com um filme impregnado de seu estilo “verborrágico”.

Dá para reconhecer o comentarista em várias falas dos personagens. E se fecharmos os olhos, podemos nos imaginar diante da CBN, do Jornal Nacional ou do Fantástico.

Vale conferir!

Lilia Lustosa