Diretor: Daniel Filho
Roteiro: Daniel Filho, João Emanuel Carneiro, Tatiana MacielCom: Marieta Severo, Antônio Fagundes, Débora Falabella,
Rodrigo Santoro
Um
filme de amor-encantamento, sem tirar, no entanto, o pé da realidade!
Será
que é possível realmente sermos os donos da nossa história, definindo
exatamente aonde queremos chegar e o que queremos ser ou não ser nesta vida?
Baseado
na peça de João Falcão, o filme de
Daniel Filho gira justamente em torno desse poder ou não-poder que temos de
determinar nossos destinos, de escrevermos nossa própria história da maneira com
a qual sonhamos.
O
filme conta assim a história de Carolina (Marieta Severo), uma mulher já nos
seus 50 e tantos anos de idade, casada há mais de 30 anos com Luís Cláudio
(Antônio Fagundes). Mãe de quatro filhos crescidos, já saídos de casa, ela vive
um momento de crise pessoal, aquela fase em que, depois da sensação de ter cumprido
a missão de criar os filhos, ela olha para trás e tenta entender o que foi que
ela fez com sua vida, com seus planos de futuro.
E
nesse “olhar para trás” ela se depara com uma Carolina jovem (Débora
Falabella), ingênua, ainda com 18 anos, cheia de sonhos de um futuro de
sucesso, com toda sua história ainda por ser escrita. Uma Carolina que vive também
a descoberta do grande amor, acreditando ter encontrado o “homem da sua vida” - um Luís Cláudio interpretado
desta vez por Rodrigo Santoro.
O
filme vai então intercalando cenas do presente com o passado, em que as duas Carolinas dialogam. A jovem, tentando a
todo custo mudar e moldar o seu futuro; As versões maduras, resultantes das
mudanças da jovem sonhadora, tentando faze-la entender que não adianta, que não
há um único caminho certo. Que nenhuma
vida é 100% feliz nem 100% triste!
Mesmo
tratando de um assunto sério, o filme consegue ser leve, divertido, gostoso de
ver. As primeiras sequências, em que a Carolina-jovem aparece, são bem
interessantes, com a protagonista dirigindo seu olhar para câmera, para nós,
espectadores, apresentando-nos sua vida como se ela fosse de fato um filme.
Daniel Filho brinca aí conosco. Um filme que tem consciência de ser filme e que
nos aponta que nossa vida real de cada dia não funciona bem assim. Que não dá
(ou dá?) para pular as partes ruins, voltar, refazer, reescrever o roteiro,
mudar o cenário... só podemos mesmo viver!
Fora
o roteiro e os diálogos, que são fantásticos, esteticamente o filme também é
bem interessante, com algumas cenas
muito bonitas, como a do momento em que o casal se conhece, no meio de uma
passeata estudantil. Eles começam a conversar e tudo que está em volta fica em
câmera lenta, como se nada mais interessasse. O mundo caindo e eles ali naquela
bolha, protegidos por um amor recém-nascido. Encantador!
A
água que cai da torneira da pia do banheiro de uma Carolina angustiada e
vivida, e que marca tão bem a passagem do tempo que não volta... lindo também!
Enfim, A Dona da História é um filme
divertido, super recomendado, que nos faz pensar nos caminhos que percorremos
até chegar aqui. Se foi o melhor, se saiu como planejado, se poderia ser melhor
ou não, isso não importa. O importante é continuar caminhando. Ou como diria o
rei: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!”
Lilia Lustosa